sexta-feira, 26 de junho de 2009

A vó, o sítio e os cowboys



Embora eu não seja o dono dele, passei boa parte da minha infância do Sítio do Ribeirão Preto, que era dos meus avós Anísio e Alice, mas que pertence agora à família do meu tio Osvaldo. Bem ali perto do Catavento, perto da cidade de Arandu. Digamos que aquele lugar de sonhos era o meu "Sítio do Picapau Amarelo". Quem sabe um dia eu ainda não darei de Monteiro Lobato, colocando minha imaginação para funcionar (sem pretensão alguma de igualdade).

Tomar leite na mangueira, armar arapuca, pescar no rio Paranapanema ou no açude, andar a cavalo, jogar futebol no campão, estas coisas que as crianças não fazem mais... Ver a vó matar o frango, depená-lo na água fervente, moer café no moedor manual, tomar água do pote com a canequinha de ferro, fazer xixi no pinico. Ah, que gostoso!

A casa não tinha forro e os primos riam escondidos ao ouvir o ronco do vô na madrugada. Quando chovia, minha avó corria cobrir os espelhos da casa, pois tinha medo de atrair raios. Junto morava uma tia solteirona, a Messias, às vezes sorridente e às vezes brava. Conta-se que um dia os soldados vieram buscá-la para servir a Pátria, nos idos da Segunda Guerra Mundial, mas descobriram que era "a" Messias e não "o" Messias.

No sítio tem uma venda, que funciona até hoje, de madeira, que foi escolhida como cenário para uma foto exibida na capa do disco Cowboys do Asfalto, da dupla Chitãozinho e Xororó, em 1990. A foto foi tirada na porta dos fundos. Só de lembrar da venda sinto o cheiro da mortadela pendurada, dos doces (suspiro, triângulo de bananinha com um indinho de plástico, maria mole). O vô Anísio mandava escolher e a gente aproveitava. Bom era sentar na escada e ficar olhando o rio, a estrada, o jogo de malha.

Bem, estas lembranças foram só para firmar uma realidade bem presente: os 95 anos da minha vó, que segue cheia de disposição para jogar escopa de 15 com os netos. Já ouvi falar disso? E a dona Alice está cada dia mais teimosa. Mas sabe, fico pensando, como não resistir diante de tantas imposições e sugestões?

Meus filhos a chamam de "bisa" e nossa família ficou muito feliz de encontrá-la firme, após 3 anos morando longe. Recentemente houve a festa de aniversário dela, com muita dança e alegria. Enfim, situações como essas que nos inspiram a dar graças a Deus pelo dom da vida e também nos ensinam tantas coisas, mas tantas, que ficamos boquiabertos. Mas como é bom continuar aprendendo!