segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Amor pra recomeçar

Ela viveu trinta anos ao lado de quem amava. Todas as noites ia à casa daquele homem e dava-lhe o que precisava: os remédios, a comida, muita atenção e carinho. Trocavam algumas palavras - nem eram necessárias muitas -, partilhavam um cigarro, assistiam ao jogo de futebol do time preferido dele e se despediam. Ele era um trabalhador sério quando se conheceram e começaram a namorar. Com o tempo o alcoolismo o despedaçou. Depois de uma das convulsões, as ideias em sua mente ficaram embaralhadas para sempre. Foram vários meses de coma e ele sobreviveu ao impacto de sua cabeça no chão. O amor dela foi se fortalecendo ainda mais.

Ela não o abandonou e nem contrariou os pais, que sempre se opuseram ao casamento. Ficou ao lado daquele que, mesmo não podendo corresponder plenamente ao seu afeto, foi o seu escolhido. Quando o pai e a mãe da moça morreram, nada mudou para quem já tinha decidido amar sem ser correspondida.

Mas chegou o dia em que ela se viu obrigada a fazer a pergunta: "O que vou fazer agora todas as noites?". Ele havia partido, subitamente, quando tudo parecia tão bem. Discreta, nem todos sabiam quem era aquela senhorita que não deixou de rodear o caixão, de fitar o amor da sua vida, de lembrar as muitas conversar que tiveram. E, com certeza, das vezes em que não concordaram com algo. Alguém chegou a comentar: "Que exemplo de fidelidade!".

Posso acrescentar: "Que simplicidade, impressionante". Serviu, amou, se entregou e se despediu. Não recebeu herança e muito menos foi aprovada por todos. Muitos não entenderam suas atitudes e, por certo, os agradecimentos ficaram aquém do que ela merecia.

Sabe, tenho certeza que ela continuará distribuindo este amor sincero, transparente, verdadeiro, prático, sem pedir nada em troca, porque isso já faz parte dela. Talvez encaixe aqui o refrão de Amor pra recomeçar, do Frejat:

"Desejo que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor pra recomeçar
Pra recomeçar".

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