Chamados para servir

Estou aprendendo na prática - não sem sofrimento – que renunciar, obedecer e servir andam juntos. Como se estivessem de mãos dadas! A cada dia o Espírito Santo tem me apertado mais - ainda resta a renunciar, preciso obedecer mais... E penso que o serviço é a expressão deste aprendizado, porque nos leva da interiorização para a prática.

Paulo diz em 2 Coríntios 12:15: “Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma. Se mais vos amo, serei menos amado?”. Paulo gastou-se apenas com um objetivo, ganhar almas para Jesus, fazer seu amor conhecido. O tempo todo ele atraía as pessoas para Jesus, nunca para si próprio. Onde quer que ia, Jesus servia-se de sua vida. Paulo sabia ser um “capacho” sem, contudo, ressentir-se disso.

E quem deixa o seu país, ou seu estado, a sua cidade, seu bairro, e vai para outro lugar, precisa entender bem isso. Que lá é desconhecido, que toda a sua história de conquistas não tem valor para as pessoas, e que vamos ser gastos, vamos nos doar, oferecer. Por isso Paulo complementa o versículo: “Se mais vos amo, serei menos amado?”. O amor natural espera retribuição, mas Paulo em outras palavras diz que pouco  importa se o amam ou não, está disposto a despojar-se completamente.

Servir significa que livre e espontaneamente há disposição para realizar qualquer serviço necessário ao bem-estar espiritual, emocional, mental ou físico de um irmão ou de qualquer pessoa que através desta nossa atitude tenha a oportunidade de conhecer a Jesus. Servir é o núcleo da vida cristã, a prática. É uma das melhores e mais naturais maneiras de expressarmos nosso afeto e amor. Como cristão, somos chamados a servir. Não é questão de opção.

Servir, no grego, tem duas palavras usadas. Uma é “douleuo”, que traz a idéia de prestar assistência a alguém como um escravo o faria, sem consultar as suas próprias preferências. E a outra palavra grega é “diakoneo”, que é servir sem ter obrigação de fazê-lo, como um mordomo ou mensageiro, ministrando a graça e a verdade de Deus.

O profeta Isaías afirma que Deus o formou desde o ventre para ser seu servo (49:5). Fica fácil entender que nascemos para sermos servos. E sempre o Senhor transmitia ao seu povo os mandamentos: “O Senhor, teu Deus, temerás, a ele servirás” (Deuteronômio 3:16); “...servir de todo o vosso coração e vossa alma” (Deuteronômio 11:13).

Então, o que fazer para servir assim, de todo o coração e toda a alma?

1 – seguindo o modelo de Jesus

Jesus veio para servir e se dar. É o nosso exemplo maior. Por causa do seu imenso amor por nós, Jesus se fez nosso Servo durante todo o seu ministério terreno. Esse servo “levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro” (1ª Pedro 2:24). Jesus dedicou-se integralmente ao serviço dos outros.

O nosso mundo emprega vários critérios para avaliar a grandeza de alguém. É grande quem exerce muito poder, quem ocupa alta posição social, quem dirige uma empresa, que conseguiu reunir riquezas e posses, quem realizou uma façanha muito difícil, quem goza de grande popularidade junto ao público. Mas Jesus aperta o botão “desliga” dessa idéia quando Tiago e João lhe pedem para que, na glória, se assentem um à Sua direita e outro à Sua esquerda: “Não será assim entre vocês. Ao contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês, deverá ser servo; e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo de todos” (Marcos 10:43-44).

Numa outra conversa com os discípulos, eles levantam uma questão sobre quem deles parecia ser o maior. E Jesus lhes diz: “Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor, e aquele que dirija seja como o que serve. Pois qual é maior: quem está à mesa ou quem serve? Porventura não é quem está à mesa? Pois, no meio de vós, eu sou como quem serve” (Lucas 22:26 e 27).

Na última Ceia, Jesus – o mestre – serve os discípulos. Na noite em que foi traído, vemos o Rei da glória a lavar os pés empoeirados de 12 homens (João 13). Um deles era o próprio traidor. Os outros, dentro em breve, fugiriam, quase todos.

Entre tantos significados, lavar os pés é fazer aquilo que não conta muito na opinião dos homens, mas que representa tudo para Deus. É gastar-se pelo interesse de Deus nas outras pessoas, e não se importar com o preço a pagar por isso.

Jesus reforça esta chamada ao serviço em João 12:26: “Se alguém me serve, siga-me, e, onde eu estou, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, o Pai o honrará”.

Lucas 16:13: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir à Deus e às riquezas” – também palavras de Jesus.

2 – oferecendo tudo que sou e tenho

Filipenses 2:17: “Entretanto, mesmo que seja eu oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, alegro-me e com todos vós me congratulo”

A compreensão de Paulo sobre como Jesus o tratara é o segredo de sua determinação para servir o próximo. Quando compreendemos que Jesus Cristo nos serviu a despeito de todo o nosso egoísmo e pecado, nada que possamos ter que suportar dos outros esgotará nossa determinação de servi-lo, por amor dEle.

Devemos servir quando não temos nenhuma vontade, pois servir é contrário à nossa inclinação natural. Na maior parte do tempo, estamos mais interessados em nos servir do que no serviço. Dizemos: “Estou procurando uma igreja que atenda às minhas necessidades e me abençoe” e não: “Estou procurando um lugar onde possa servir e ser abençoado”.

Quando somos gratos pelo que Cristo fez por nós, também queremos dar uma resposta de alegria. A sogra de Pedro estava doente e depois de curada por Jesus, diz a Palavra em Marcos 1:31, que ela passou a servir a Cristo e os discípulos que estavam junto com Ele. Ela recuperou a saúde. É o que tinha. E devolveu com carinho a Jesus!

Tornar-se servo exige abnegação e sacrifício. Os serviços ocupam tempo e energia. É preciso que nos disponhamos a ajudar por todos os meios disponíveis: talentos, capacidades, posses materiais.

Tiago, um homem prático, também nos exorta. Ela lança a pergunta: “Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia e um de vocês lhes disse: Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se, sem, porém, lhe dar nada, de que adianta isso?” (Tiago 2:15-16).

3 – como escravos

Gálatas 2:19 e 20:“Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou em quem vive, mas Cristo vive em mim...”

Por amor a esse Senhor que é servo, e por amor ao povo que a Ele pertence, também nós demos assumir a posição de servos. “Porque o que foi chamado no Senhor, sendo escravo, é liberto do Senhor; semelhantemente, o que foi chamado, sendo livre, é escravo de Cristo. Por preço fostes comprados; não vos torneios escravos de homens” – 1 Coríntios 7:22.

Ninguém está realmente unido a Cristo enquanto não se dispuser a renunciar não apenas ao pecado, mas à sua maneira de encarar as coisas. Temos que deixar de lado a nossa pretensão de que somos alguma coisa, de que somos merecedores da consideração de Deus.

Estas palavras significam dar um fim à minha independência, com minhas próprias mãos, e me submeter totalmente à supremacia do Senhor Jesus (REI). Ninguém pode fazer isso por mim; tenho que fazê-lo, eu mesmo. Sou escravo de Jesus.

Romanos 6:16: “Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para morte ou da obediência para a justiça”

Ou seja, a rendição a Jesus fará com que sejam rompidas todas as formas de escravidão, de outros vícios. Se sou escravo de mim mesmo, a culpa é minha, porque em determinado momento rendi-me a mim mesmo. Do mesmo modo, se obedeço a Cristo, faço-o porque me rendi a ele.

4 – estando vinculado ao Corpo de Cristo

Somos chamados a sermos escravos um dos outros, não por obrigação, mas por amor. Uma razão pela qual você precisa estar vinculado a uma igreja local é o cumprimento do seu chamado para servir a outros crentes de maneira prática.

Paulo escreveu assim, em Gálatas 5:13: “Irmãos, vocês foram chamados para a liberdade. Mas não usem a liberdade para dar ocasião à carne; ao contrário, sirvam uns aos outros mediante o amor”.

Pedro também apresenta este mandamento, em 1ª Pedro 4:10: “Cada um exerça o dom que recebeu para servir aos outros, administrando fielmente a graça de Deus em suas múltiplas formas”.

Assim, não existem ministérios insignificantes. Alguns são visíveis e alguns desempenhados nos bastidores, mas todos são valiosos. Ao servimos juntos na família de Deus, nossa vida assume uma importância eterna. “Ora, vós sois Corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo” – 1 Coríntios 12:27.

Em Suas parábolas, Jesus falou sobre um servo bom e outro negligente (Mateus 24:45 a 51). Um, fiel e prudente, cuidou dos bens do seu senhor enquanto este esteve longe. O outro, negligente, foi castigado e lançado fora da presença do seu senhor. Na parábola, dos talentos (25:14-30), um homem – ausentando-se do país – chamou seus servos e lhes confiou os bens. E, ao voltar, elogiou os que receberam 5 e dois talentos, pois duplicaram o que tinha ganho. Mas o quer recebeu um talento o enterrou e devolveu assim. E o homem fica bravo, porque o servo podia ter colocado o dinheiro no banco e lhe entregue com os juros. E este é chamado de servo inútil, lançado para fora, nas trevas, onde há coro e ranger de dentes.

Precisamos estar bem conscientes da nossa responsabilidade de servir, pois quando a tribulação vem, a chuva, a tempestade, o que nos sustenta é esta prática da palavra, que é como a casa construída na rocha. E quem prática a Palavra é comparada ao homem prudente (Mateus 7:24). Tiago fala no praticante da Palavra como “operoso praticante”, que será bem-aventurado no que realizar (Tiago 1:25). Precisamos exercitas nossos músculos espirituais, mesmo que comecemos devagar. “Quem despreza o dia das coisas pequenas?” – Zacarias 4:10

E é lindo ver que na Bíblia sempre há recompensas para os que se dispõem a servir. Malaquias mostra a diferença entre e o que serve e o que não serve a Deus, o justo e o perverso. Às vezes podemos até pensar que é inútil servir a Deus (3:14), mas veja o que diz a Bíblia: “Então, os que temiam ao Senhor falavam uns aos outros; o Senhor atentava e os ouvia; havia um memorial escrito diante dele para os que temem ao Senhor e para os que se lembram do seu nome. Eles serão para mim particular tesouro, naquele dia que preparei, diz o Senhor dos Exércitos; poupá-los-ei como um homem poupa a seu filho que o serve. Então, vereis outra vez a diferença entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não o serve”.

Em Hebreus 6:10, está escrito: “Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que evidenciastes para com o seu nome, pois servistes e ainda servis aos santos”.

Na verdade, o nosso serviço aqui é um prenúncio daquilo que faremos quando estivermos na glória. Apocalipse 7:13 a 15 mostra que os que têm roupas brancas e estão diante do trono são os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro e “o servem de dia e de noite no seu santuário, e aquele que se assenta no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo. Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima”.

Sirvamos ao Senhor de todo o coração e toda a alma, seguindo o modelo de Jesus, oferecendo tudo o que somos e temos, como escravos e vinculados ao Corpo de Cristo. Lembremos que não há ninguém que não dê a Deus que não receberá 100 vezes mais.

Mateus 19:28, 29: “E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor de meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna.”