segunda-feira, 14 de maio de 2012

Dias, riquezas e glória!

A sensação não foi agradável. Ela, que sempre me reconhecia e fazia festa quando eu chegava, desta vez ficou me olhando, olhando, e esqueceu o meu nome. Fixou mais uma vez o olhar e repetiu que não se lembrava quem eu era. O almoço com minha avó, no Dia das Mães, foi rápido - porque ela já tinha comido uma sopa antes - e um tanto estranho. Até poucos dias atrás, ela era minha companheira de caxeta e escopa de 15, mas os 98 anos pesaram mesmo.

Como aprendi desde pequeno, pedi a benção dela ao ir embora e ouvi um gracioso "Deus te abençoe, meu filho". Antes de sair, a acompanhante da noite deu-lhe algumas gotas de um remédio forte, para evitar que ela continue vendo porcos, formigas, galinhas e outros animais passando pela sala de casa, ou que se assuste com algo pegando fogo. A imaginação dela está mais fértil do que nunca.

Dentro do carro, um dos meus filhos percebeu o casanço da bisavó e se embaralhou com os números da idade dela, afinal dona Alice é quase uma centenária. Ele comentou: "Pai, acho que já deu a hora dela. É muito, não é?". Explicamos que só Deus sabe o nosso tempo de vida, precisamente os dias, horas e segundos.

Davi, o rei do povo de Israel, quando foi ficando mais experiente, chegou a fazer um pedido a Deus, que é desde já o meu e o que também faço para a vovó querida: "Não me rejeites na minha velhice; quando me faltarem as forças, não me desampares" (Salmos 71:9). Assim, quando chegar a hora de partir, que as lembranças possam ser também como as de Davi: "Morreu em ditosa velhice, cheio de dias, riquezas e glória" (1 Crônicas 29:28).

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