terça-feira, 13 de março de 2012

Vejo o que não queria

Vejo uma senhora que não se lembra mais dos filhos, netos e bisnetos, e que vive agora afundada em remédios. Vejo também um homem que está lúcido, mas se encontra às voltas com a mulher doente. Vejo mais um que espera o tempo passar com suas pequenas invenções. Vejo quem não se preocupa com o dinheiro, porque a aposentadoria é gorda, e por isso vive viajando. Vejo ainda uma que está entrevada na cama enquanto os filhos brigam pela herança. Viúvas, viúvos, todos idosos, aguardando o dia da partida. Com certeza, desejaram uma velhice tranquila, até planejaram como seria o futuro, mas talvez poucos estejam satisfeitos com a qualidade de vida que têm. "Os dias da nossa vida sobem a setenta anos ou, em havendo vigor, a oitenta; neste caso, o melhor deles é canseira e enfado, porque tudo passa rapidamente, e nós voamos" (Salmos 90:10).

E como o tempo passa, as dores chegam, alguns temores nos invadem, a ousadia não é a mais a mesma, calculamos mais os riscos, somos mais comedidos. Os alvos parecem ser mais modestos e algumas realidades brotam: os filhos não aparecem mais como antes, quando vinham sempre almoçar em casa; alguns netos nem dão bola para a vovó ou o vovô, que parecem na verdade nem existir, mesmo ainda quando têm muitas histórias para contar e muito mais ainda a ensinar. "Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra" (Romanos 13:7).

Diante do que vejo, não quero envelhecer, embora saiba que não tenho escolha, pois meus dias estão determinados. Foi a meditação que Jó fez sobre a brevidade da vida: "O homem, nascido de mulher, vive breve tempo, cheio de inquietação. Nasce como a flor e murcha; foge como a sombra e não permanece; e sobre tal homem abres os olhos e o fazes entrar em juízo contigo? Quem da imundícia poderá tirar coisa pura? Ninguém! Visto que os seus dias estão contados, contigo está o número dos seus meses; tu ao homem puseste limites além dos quais não passará" (Jó 14:1-5).

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